Testemunhas comprovam a primeira morte de motoca da faixa azul. Foi na avenida dos Bandeirantes

A Faixa Azul de motociclistas, criada com a promessa de melhorar a segurança viária de motociclistas, já tem a sua primeira morte constatada, ainda que não seja confirmada oficialmente. Ela aconteceu na avenida dos Bandeirantes, Zona Sul de São Paulo, onde essa solução foi instalada há pouco mais de um ano.

A vítima é um homem de 38 anos. Ele morreu no último dia 1º de março depois de ficar quatro semanas internado no hospital para o qual foi levado após colidir sua moto com outra motocicleta às 6h36 do dia 8 de fevereiro de 2024.

A ocorrência foi registrada no Infosiga como colisão traseira, em frente ao número 4563 da avenida, numa descida que fica paralela ao muro do Aeroporto de Congonhas, sentido Marginal do Rio Pinheiros, aproximadamente 200 metros antes do viaduto João Julião da Costa Aguiar.

Eu estive lá na manhã de 25/04/2024 (veja fotos a seguir) e conversei com pessoas que presenciaram a movimentação da Polícia Militar, agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego, e ambulância no dia da colisão. Um homem que trabalha de vigilante em uma das ruas que desembocam na avenida, me disse que viu o corpo do homem e de pelo menos uma das motos envolvidas na colisão, ambos deitados na pista próxima da Faixa Azul, ao lado do canteiro central. “O trânsito ficou passando só pelas duas pistas aqui da direita, pois isolaram as pistas do lado de lá”, disse.

Uma mulher que trabalha em um dos estabelecimentos próximos, também viu o movimento na manhã daquela sexta-feira que antecedeu o Carnaval e me confirmou que o isolamento feito pelos agentes foi na pista onde tem a faixa azul. Ela comentou que, recentemente, o irmão da vítima apareceu lá onde ela trabalha, dias atrás, perguntando se alguém tinha presenciado o acidente.

Eu perguntei à Prefeitura de São Paulo sobre o ocorrido. A assessoria de imprensa respondeu. “Sobre a ocorrência do dia 8/2/2024, a partir da informação de óbito da vítima em 1º/3/2024, a CET iniciou apuração junto às autoridades policiais para incluir as informações no próximo relatório trimestral do trecho da Faixa Azul”.

Pelo tempo, (já faz dois meses) a empresa que cuida do trânsito da Capital já deveria saber o que aconteceu, já que existe internamente um registro de acompanhamento da ocorrência – com vítima em estado grave – por agente da CET que esteve no local.

Da mesma forma, enviei um pedido para a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública, pedindo ao menos a descrição do acidente que consta no boletim de ocorrência, já que não podem informar o nome dos envolvidos. Ao contrário de outras solicitações, fui solenemente ignorado, apesar de ter recebido um email de resposta-padrão dizendo que estavam apurando as informações. Eu também fui ao 27º Distrito Policial do Campo Belo para saber se conseguiria alguma informação, mas não tive êxito.

Esse óbito coloca a avenida dos Bandeirantes como uma das campeãs de mortes de trânsito na capital. Desde 2016, quando os registro do Infosiga começaram, morreram 29 pessoas, sendo 15 de pessoas em motocicletas.

Perigo na mudança de faixa

O número de ocorrências de trânsito com vítimas não-fatais nessa avenida também disparou na comparação entre primeiros trimestres. Foram 39 registros neste ano (consta uma vítima considerada grave), contra 26 casos no ano passado, uma alta de 50%. Um agente de trânsito que trabalha na CET me disse que as características desses “acidentes” de moto na avenida dos Bandeirantes continuam a mesmas. “São, em sua maioria, colisões na mudança de faixa e todas na faixa azul”, revelou. Por motivos óbvios, não posso revelar o nome dele.

Captura de tela do jornal SP1 da Globo de 24/04/2024 mostra homem deitado no chão aguardando a emergência em avenida com faixa azul

Eu também perguntei à prefeitura sobre outro óbito de motociclista ocorrido em 23 de dezembro do ano passado, informado pelo ativista e conselheiro municipal de Trânsito da cidade, George Queiroz, no Blog Bicicleteiros.

“A respeito da ocorrência de 23/12/2023, o condutor da moto trafegava pela faixa 4/4 e avançou o sinal vermelho para fugir de um assalto, quando colidiu com um veículo. A garupa morreu em razão da colisão. Este óbito, portanto, não tem relação com a Faixa Azul”.

Fora da Faixa Azul não conta?

A prefeitura informou que existem outros dois óbitos de motociclistas em vias com Faixa Azul. Um na mesma avenida dos Bandeirantes, em 14 de abril, e outro na avenida Moreira Guimarães. Esta é uma informação exclusiva do Jornal Bicicleta.

“Há ainda em apuração, também para inclusão nos próximos relatórios trimestrais fornecidos à Senatran, outros dois óbitos ocorridos recentemente em vias em que foi implementada a Faixa Azul. Um no dia 27/3, à 1h50, na Av. Moreira Guimarães, sentido Aeroporto, na altura da Avenida Jamaris. O motociclista colidiu com a traseira de um caminhão fora da Faixa Azul, foi socorrido com vida mas veio a óbito no hospital”, diz a nota.

Outro, ocorrido no domingo, dia 14/4, às 14h18, na Avenida dos Bandeirantes, sentido Marginal, sob o Viaduto João Julião da Costa Aguiar. O condutor da motocicleta foi socorrido e o garupa foi a óbito no local”, informa a nota da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo.

Recorde histórico na cidade

Segundo análise com dados do Infosiga, as mortes de motociclistas no primeiro trimestre de 2024 atingiram recorde histórico pelo segundo ano consecutivo. Foram 112 óbitos registrados de janeiro a março, alta de 22% em relação aos 92 casos do primeiro tri de 2023. As motos respondem, assim, por 47% de todos os óbitos neste primeiro trimestre do ano, o que corresponde a pelo menos uma morte de ocupante de moto por dia.

No geral, os óbitos de trânsito na capital totalizaram 237 casos no primeiro trimestre, uma alta de 2% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Aumentou, inclusive, o número de mortes de ciclistas, saindo de sete em 2023 para oito em 2024 (14% de alta).

Houve, no entanto, queda de 4% nos óbitos de pedestres (de 80 para 77) e de 49% no de ocupantes de automóveis (de 43 em 2023 para 26 em 2022).

Todas as fotos do trânsito na avenida dos Bandeirantes foram feitas de cima do Viaduto João Julião da Costa Aguiar – Rogério Viduedo – 25/04/2024


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