O governo do Estado de São Paulo saiu com um recorte inusitado para comentar a evolução das morte geradas pela violência de trânsito em março deste ano. Optou por selecionar o período entre 24 e 31 de março para mostrar que houve queda no índice, mais isso só aconteceu em face da menor quantidade de veículos nas ruas devido ao isolamento social imposto pela quarentena do coronavírus. A gestão Dória deixou o que realmente seria notícia para o fim do texto. Se a comparação fosse a mensal, em março de 2020 houve alta de 5,5% em relação à 2019 (453 contra 429).

Destacar no comunicado de imprensa enviado para as redações apenas os sete dias que representam o início da quarentena no estado serviu para o governo gerar boas manchetes nos meios de comunicação. Serviu ainda como gancho para incluir uma declaração de alívio por parte da administração em relação à capacidade do atendimento de saúde neste momento de superlotação dos hospitais. Dá a entender que tudo está sob controle.
“Em meio à crise do coronavírus, a menor quantidade de acidentes resulta no aumento da capacidade de atendimento aos infectados e que buscam o sistema de saúde.” informou uma nota do Programa Respeito à Vida do governo Dória enviada para a imprensa.
A premissa de que houve menos óbitos nesses sete dias só funciona no entanto em âmbito estadual, pois na cidade de São Paulo a situação é inversa. Nesses sete dias, a capital registrou aumento nas mortes. Foram 15 em 2020 contra 14 em 2019 . É um sinal de alerta para o que está por vir, pois se contarmos o total de óbitos na cidade em todo o mês de março, há clara tendência de alta. Foram 90 os óbitos em março de 2020 contra 65 em 2019 (+38%).

Ruas livres para acelerar e pressão para fazer mais entregas matam mais os motociclistas

O fato é que a cidade de São Paulo não tomou nenhuma providência para acalmar o trânsito e, com as ruas livres de congestionamento, condutores acabam sendo convidados a acelerar e cometer mais infrações.
E quem morreu mais nesse período destacado foram os motociclistas. A alta é de 60% (8 em 2020 contra 5 em 2019).