Ciclofaixa de Lazer custará R$ 83,4 milhões para SP, valor de 175 ciclovias da ponte Cidade Universitária

Foi realizada em 27 de março de 2023 a concorrência entre empresas interessadas a operar os 114 quilômetros de Ciclofaixa de Lazer de São Paulo. A Innovia Soluções Inteligentes Ltda. venceu o certame com a melhor proposta. Caso não haja recurso das perdedoras, a vencedora vai receber R$ 83.399.999,94 para realizar 123 ativações em domingos e feriados ao longo de 24 meses, podendo ser prorrogado por igual período.

Pagar para a realizar o serviço foi a segunda opção da administração Ricardo Nunes (MDB) à frente da capital paulista para manter a ciclofaixa em operação. O modelo anterior era custeado diretamente por empresas que recebiam o direito de fazer publicidade ao longo dos trechos. Primeiro foi a Bradesco Seguros e depois o Uber , que rescindiu o contrato em meados de 2022.

Na última tentativa, a Coranda, uma desconhecida agência de publicidade, venceu o chamamento público mas, sem a adesão de nenhuma marca famosa para estampar nas faixas e bandeiras, não teve dinheiro para manter a operação por mais de dois meses, ficando a Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT) obrigada a encerrar o contrato com ela. Atualmente, a ciclofaixa de lazer está sendo operacionalizada de forma emergencial pela SP Turismo, que recebe cerca de R$ 434 mil por ativação. O contrato está próximo de terminar.

O dinheiro que a cidade de São Paulo vai destinar para o serviço poderia ser investido em infraestrutura permanente. Numa conta simples, os R$ 83,4 milhões são equivalentes ao valor de 175 estruturas iguais à da ciclovia recentemente instalada na Ponte Cidade Universitária, que custou R$ 475 mil (foto de abertura).

O valor do contrato também daria para custear com folga os R$ 65 milhões previstos para a manutenção de 667 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas existentes, cuja concorrência está empacada desde o ano passado. A falta de manutenção está colocando em risco milhares de pessoas que trafegam por estruturas abandonadas, com buracos e sinalização, conforme apontou relatório recente da Ciclocidade.

E ainda sobrariam quase R$ 20 milhões.

Ciclofaixa de Lazer na ponte Cidade Universitária, onde já existe ciclovia permanente

Vejam bem, não somos contra os benefícios da Ciclofaixa de Lazer como política pública para estimular o uso da bicicleta como transporte mas, vale ressaltar, que o modelo anterior não representava nenhum custo para o Tesouro Municipal.

Outra questão que é preciso salientar é que a SMT, do secretário Ricardo Teixeira, não adotou no edital da ciclofaixa de lazer nenhuma das recomendações de integrantes da Câmara Temática da Bicicleta para democratizar o uso e fazê-la chegar a pontos mais distantes do centro expandido.

Os integrantes sugeriram retirar as ciclofaixas de lazer em locais onde já existe estrutura permanente, tal como na Avenida Paulista e rua Vergueiro, bem como levar o serviço para mais áreas periféricas carentes de equipamentos de lazer. Também sugeriram eliminar a figura de orientadores de tráfegos (bandeirinhas) cuja eficácia para controle de passagem de ciclistas em cruzamentos é duvidosa. No atual contrato emergencial, eles não estão sendo usados e não se recebeu quaisquer notícias de problemas aos ciclistas ou ao trânsito de automóveis.


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3 comentários

  1. Olá.

    Essa reportagem traz uma reflexão bem relevante sobre a ineficiência da alocação de recursos públicos em ciclovias.

    Acredito que devemos levar essa discussão para figuras de maior destaque no mundo do ciclismo (Renata Falzoni, Willam Cruz, etc) e mobilizar a comunidade de ciclistas para pressionar a prefeitura a utilizar esses recursos na construção de novas ciclovias.

    Será mais barato para a cidade e infinitamente melhor para os ciclistas.

    Não imagino a Prefeitura desistindo desse contrato agora, mas, se começarmos essa discussão nesse momento, podemos eventualmente convencer os gestores públicos a iniciar licitações de novas ciclovias que passarão a utilizar os recursos das ciclofaixas daqui um ano, quando esse contrato estiver em vias de ser prorrogado.

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  2. Boa noite !
    Absurdo, deve estar sobrando muito dinheiro nos cofres da prefeitura de SP.
    Ando de bicicleta frequentemente na ciclovia da radial leste (Tatuapé até Itaquera) e torço por mais quilômetros de ciclovias na cidade. Agora, gastar 84 milhões, por dois anos, com ciclofaixas aos domingos e feriados na cidade, me parece uma total falta de prioridades/critérios numa cidade com tantas carências/urgências a olhos vistos. Senhor prefeito, peça ao seu secretário ou seja lá quem for, para rever/cancelar já esse contrato.

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