Enquanto o mundo da sustentabilidade é engolfado na COP30 pelo marketing raso dos lobbies automotivos, do petróleo e outros minérios que prometem soluções milagrosas para conter a destruição da superfície do Planeta Terra e as partes sofistas fazem acordos hipócritas que esperam reduzir as poluições dos céus e mares, eu inauguro aqui na Tríplice Fronteira da Zona Oeste paulistana o meu pedal matinal não esportivo, que consiste em forçar-me a tirar a bicicleta de casa e aproveitar o ambiente da vizinhança como uma forma de cuidar da saúde física e mental e também como protesto pela alta dependência que temos do transporte individual motorizado, já que o rolé tem muito trânsito carrista.
Ainda que tenha o privilégio de estar a menos de trezentos metros não de uma, mas de duas estruturas cicloviárias, acima e abaixo da rua onde moro pedalar nesses locais só por pedalar, sem ter um lugar de trabalho ou estudo para ir, não é exatamente uma coisa prazerosa. Nos horários de pico de manhã e à tarde, o fato de serem ciclofaixas (pintura no chão) e não estarem segregadas, essas vias de bicicleta recebem o constante assédio de motoqueiros de aplicativo que as buscam para não ficarem parados atrás de carros. E ficar sendo pressionado por motoqueiro enquanto se pedala sem pressa na ciclofaixa é deveras desagradável.
Também tem o piso. Se uma pista para bicicleta tem lombadas, buracos e provoca solavancos, vai provocar a desistência do uso principalmente por mulheres e crianças. Uma das que uso por aqui é assim devido ao crescimento das raízes dos eucaliptos. Somam se aos desconfortos, que não são o caso pela manhã. a falta de segurança pública, a falta de iluminação, a falta de sombra e outras faltas que fazem as pessoas preferirem pegar um carro de aluguel ou comprar a própria moto e resolver logo esse problema, pois a vida tem que seguir.
Continuo com o alerta de que COP30 sem discutir o uso da bicicleta é fraude. Tudo bem que a presidência a COP30 disponibilizou bicicletários para a Blue Zone, vai ofertar patinetes e bikes compartilhadas, terá um extenso serviço de ônibus e não vai deixar ninguém estacionar carro por lá, o que deveria ser o básico de qualquer evento de sustentabilidade, mas não ter nenhum painel ou destaque com ativistas ou pesquisadores da bicicleta nas discussões de alto nível é bem significativo.
Também não desmereço o fato do Governo do Brasil ter incluído o uso da bicicleta na revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) e consequentemente tê-la citado explicitamente como ferramenta para mitigar a poluição dos transportes em um dos planos setoriais das cidades, o que é algo muito bom, mas bem tímido. Gestores da emergência climática lembrem-se: a bicicleta é 30 (trinta) vezes mais eficiente em termos de energia e pegada de carbono do que um carro, e 10 vezes mais do que o auto elétrico, que se apresenta como solução para “descarbonizar” a frota, mas que é trocar seis por meia dúzia. OU seja, se um BYD gasta 10 quilos de carbono em um deslocamento, nós ciclistas gastamos só um, e ainda ficamos mais saudáveis.
Quem estiver em Belém e gosta da acolhida cicloativista, no entanto, poderá se juntar às colegas do Coletivo ParaCiclo e da União dos Ciclistas do Brasil no Espaço Ruth Costa em Águas Lindas, cidade onde fica uma das Yellow Zones . Essas zonas amarelas reúnem os espaços alternativos de discussão da COP que abrigam os movimentos sociais e periféricos. No dia 14/11, sexta-feira, partir das 16 horas, terá conversas sobre mobilidade antirracista, tarifa zero e outras atividades relativas à justiça climática e equidade. Na manhã do sábado, dia 15, com concentração às 7 horas, promovem a Bicicletada Manifesto, uma pedalada que seguirá até o Mercado de São Brás em Belém, onde se juntam à Ala Mobilidade que vai integrar a Marcha Global pelo Clima.
Crédito da foto de abertura: Netto Du Gonçalo @nettodugon – Coletivo ParáCiclo
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