por Patricia Valverde
A cidade é Curitiba, celebrando aniversário num providencial sábado e domingo, visto que não tem feriado local na data de fundação, 29 de março. É uma cidade que espanta e encanta, bem clichê! Que nem essa dupla verbal, a capital é a mais populosa e mais negra da Região Sul, mas não é a maior em extensão. (pois é amigos, cometi um erro na entrevista com o Viduedo do Jornal Bicicleta, ao afirmar na entrevista ao vivo que ela é a maior, mas…) para um escape, em mea culpa, a cidade é, além de tudo, competitiva, e gosta de títulos.
Como boa ariana (astrologicamente), ela é “cidade mais inteligente do mundo” a mais sustentável da América do Sul, a cidade do design pela Unesco, além dos títulos mais disseminados por todo Brasil como a cidade ecológica, a smart city, a mais fria, (ja falei o quanto gosto de listar as coisas!?…) a cidade que recebeu a primeira bicicleta (1895, num clube alemão de ciclismo), a cidade que lançou o BRT – no dia mundial sem carro, 22/09, e como já é evidente, a cidade mais carrocrata com praticamente 1,2 veículo por habitante (e considere os curitibinhas…).
Não à toa, produz muito mais poluentes em carros individuais (sendo 60% das emissões vinda de transportes em geral e, dentre esses, 75% são dos carros individuais, segundo a ONG Rede Curitiba Climática/em palestra) e, ainda, com colisões a cada 16 minutos.
Curitiba é a cidade que, em sua história, na época da ditadura militar, infelizmente era tão íntima dos escalões do regime, que foi capital do Brasil pelo período de 24 a 27 de março 1969 (veja bem, como o meme da republiqueta, tem lá suas bases e isso não deveria ser piada quando o assunto é golpe de estado).
Sabe! Curitiba tem desafios e quem diz isso é uma curitibana. Mesmo sendo da gema, há muitas críticas. De maneira geral, dizem que curitibanos são muito críticos. A verdade é que é rabugice mesmo, que reclama do clima, do sol, do frio, dos mosquitos, da chuva, da calçada, do radar,… é constante e provinciano (que eu também faço coro), é chato.
Até porque basta anunciar que Curitiba é primeira n’alguma coisa que já fica mansinho. É do perfil curitibano ter orgulho de seus títulos, mas também não demonstrar satisfação para manter o senso crítico.
Imagino que setores do executivo devem, vez ou outra, se perderem com o reluzir dos diplomas e troféus das prateleiras públicas, mas o diálogo é uma das ferramentas mais preciosas, mesmo que isso não seja requisito no IPPUC, por exemplo, especialmente quando o assunto é o plano diretor cicloviário, que diante dos técnicos da ONG Cicloiguaçu, apelidaram voluntários por “chatos” e que “não dava pra pensar só em ciclistas, tinha que pensar em motoristas, né?…” (tem coisas que são difíceis de esquecer!) ou quando cozinham moradores ao não entregar respostas sobre projeto que destruiu uma extensa área verde de árvores sadias (tô falando da avenida Vitor Ferreira do Amaral) e pretende fazer mais e semelhante no parque linear da avenida Arthur Bernardes.
Uma cidade cumpre sua função quando promove relações e entrelaça usabilidade, dinâmica e projeções, ações possíveis através do acesso, do trânsito das coisas, da mobilidade das pessoas. É evidente que Curitiba se destaca neste quesito, julgo dizer que essa é uma de suas vocações, com projetos brilhantes, com modelos replicáveis e que, de tão orgulhosa de seus modelos, de tão tão orgulhosa disso, reprime cenários que somente com muita ousadia e coragem poderão se atualizar.
Aquela idéia de cidade do futuro, com suas ficções, ficou para trás, (ou seja, estamos diante de uma nova ficção) e estamos nos aproximando do futuro do agora e pautar atitudes e atualizações que ainda não foram postas.
Desestimular o excesso de veiculos individuais, estatizar serviços de transporte, argumentos vindos da tarifa zero, da descarbonização e da tecnologia podem conectar a cidade a uma malha ferroviária para transporte de carga e passageiros, amadurecer possíveis linhas de metrô, somar a cidade a um transporte fluvial também de passageiros (como não?) ativando e incluindo os rios (oh! os rios em Curitiba, talvez a veia de fluxo mais importante da cidade, tão negligenciados…) enfim.
Curitiba se tornou minha terra. Embora tenha nascido nela, foi quando saí e voltei que ela me apareceu (na época eu lia o Admirável Mundo Novo de A.Huxley e aquela cidade era aqui!). Me solidarizo ao reclame dos artistas que tanto produzem por aqui, e só depois que saem, ou mesmo quando não voltam mais, é que ela os reconhece. Parece que há uma sina na qual só depois de ir-se embora torna-se possível re-enxergar.
Curitiba é a cidade-menina de Helena Kolody, a do vampiro e da polaquinha de Dalton Trevisan e a imprecisa cidade de Leminski. É a cidade que, com algum grau de facilidade, eu e você também a resumiríamos em uma palavra, mesmo não sendo ele um do poetas mais conhecidos.
Se ao andar pelo Calçadão da XV você já teve que responder a alguém perguntando se “você gosta de poesia”, então bastou pra nos treinar, independente de sua resposta. Eu sei que conseguiria (mos) poetizar essa cidade.
Por fim, para minha surpresa, enquanto estive fazendo esse texto, por dias pesquisando sem conseguir largá-lo, tracei um saldo que não esperava. Aqui, fiz uma visita de drone analógico através de sites, curiosidades, planilhas e imagens e vi que Curitiba está linda (pois é conterrâneo, estamos numa fase solar com pouca chuvas… por enquanto).
Amo essa cidade e com isso me refiro em amar uma geografia afetiva com histórias, encontros, de amor ativo, cidadão e empatia por tudo que ainda pode e precisa acontecer!

idealizadora e gerente da Bicicletaria Cultural, negócio de impacto social no centro de Curitiba (PR).
Crédito das fotos: @by.doug @cicloativismo
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https://www.mobilize.org.br/estudos/353/curitiba-verdade-ou-mentira.html
para complementar um pouco o que a Tiça nos disse…..
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