Babi Barbosa: “Onde meu avô pedalou, eu pedalo hoje”

“Então, quando ele foi pro Recife começou entregando leite e queijos. O empregador dele fornecia uma bicicleta pra ficar fazendo esses trajetos. Aí, conheceu a minha avó e foram morar em um cortiço. Quando houve a reforma urbana no Recife, em que pobre não deveria morar no centro, eles foram morar no subúrbio. Nessa época, ele já era um faz-tudo profissional.”

Para Babi, essa conexão entre caminhos e bicicleta é especial. “Onde meu avô pedalou, eu pedalo hoje. No chão que ele pedalou, eu pedalo hoje. Isso me emociona muito”, comenta feliz e emocionada.

Aprendeu a pedalar ainda criança e teve a sorte de contar com uma pista de ciclismo quase particular no condomínio onde morava e o pai era síndico. Por ser um condomínio em construção, havia espaços e possibilidades.

No entanto, a bicicleta saiu de sua vida por um tempo e só retornou no Carnaval de 2012, quando foi convidada por amigos para participar de um “Bloco das Bicicletas”.

“Em meio ao bloco, uma pessoa que estava com a bicicleta em cima do carro gritava: ‘saiam do caminho! […]’. Foi aí que percebi que não era só uma festa ou um pedal à fantasia. Estava em uma Massa Crítica com mais de 300 pessoas. Aquilo mudou minha vida!”

A partir desse momento, Babi mergulhou no mundo da bici. Em agosto daquele mesmo ano, ajudou a formar o grupo Bike Anjo em Recife, o pioneiro fora do Estado de São Paulo. Em 2017, quando Recife sediou a quarta edição do Bicicultura, Babi ampliou seu horizonte cicloativista, conhecendo e passando a integrar outros grupos.

Nesse novo horizonte, conheceu o cicloativista Raul Aragão, cuja morte trágica em Brasília a fez perceber a urgência de ações mais cicloefetivas. “Raul nos fez entender que era preciso união. Ele era o único ciclista que participava de vários movimentos, como Bike Anjo, Massa Crítica e Bikepolo, entre Recife e Brasília”, ressalta.

Hoje, Babi utiliza a bicicleta como principal meio de transporte e acredita que ela possui um poder transformador. “Eu digo que conheci Recife pela bicicleta. Porque uma coisa é subir no ônibus no ponto A e descer no ponto B. O resto é só janela, né? Outra coisa é viver a cidade. É sentir a cidade, seus cheiros e aromas”, reflete.

Para ela, a bicicleta é muito mais que um simples veículo: é uma ferramenta que conecta pessoas e transforma vidas. Sem a bicicleta, provavelmente teria seguido uma carreira convencional como arquiteta, talvez frustrante, contribuindo para o problema de mobilidade urbana e as crises climáticas. “Recife é a primeira capital do Brasil a sofrer os impactos climáticos e está entre as 20 cidades mais afetadas do mundo. Hoje, a cidade já alaga em muitos momentos, pois estamos abaixo do nível do mar, e a construção civil desenfreada contribui para isso”, alerta.

Atualmente, é coordenadora geral da Ameciclo, associação de referência na coleta e publicação de dados sobre o uso da bicicleta. A ONG também oferece suporte a famílias e amigos de ciclistas vítimas de sinistros no trânsito, o que é uma responsabilidade difícil para a equipe. “Tentamos dar esse suporte como associação, mas é pesado até para nós, porque às vezes é um amigo nosso que se foi”, lamenta.

E quando questionada sobre o que a bicicleta significa para ela, Babi é direta: “A bicicleta me fez questionar muitas coisas, inclusive o meu próprio trabalho, pois eu projetava prédios de grande impacto ambiental na cidade.”

Foto: Doug Oliveira Leforte


A entrevista ocorreu no mês de Setembro/2024 durante os eventos FMB e o Bicicultura em Brasília/DF.



Descubra mais sobre Jornal Bicicleta

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.