Gestão Ricardo Nunes culpa Infosiga pelo atraso do relatório anual de sinistros de trânsito de São Paulo

Dentre as atribuições oficiais de Ricardo Teixeira, atual secretário de Mobilidade e Trânsito (SMT) da cidade de São Paulo, está presidir o Conselho Municipal de Transportes e Trânsito (CMTT) cujas reuniões são realizadas de dois em dois meses. Durante o atual mandato, iniciado em dezembro de 2021, nunca compareceum ainda que todas as sessões tenham sido realizadas por computador desde a chegada da pandemia de Covid-19. No lugar dele, assume o secretário adjunto, Alexandre Trunkl, que geralmente dá as boas-vindas, fala algo quando a pauta é positiva para a o governo e invariavelmente se ausenta meia hora depois. O restante da reunião é conduzido pelo secretário do conselho, Dawton Gaia.

Dawton é uma figura simpática, de fácil trato, que não se abala com os arroubos dos conselheiros participativos eleitos que cobram soluções para melhorar o trânsito e o transporte na Capital. Funcionário veterano e concursado da Cia de Engenharia de Tráfego (CET), foi alocado na SMT para integrar a equipe do secretário Teixeira e assessorá-lo na condução de assuntos cicloviários. Ser incumbido de assumir a secretaria do CMTT, no entanto, o elevou à condição de porta-voz da administração do prefeito Ricardo Nunes junto à população paulistana. Isso o obriga a fazer promessas, dar desculpas, ser evasivo, tudo em nome do governo.

Uma desculpa recorrente é referente ao atraso do Relatório Anual de Sinistros de Trânsito, um documento importante para a execução de políticas públicas voltadas à segurança viária da Capital. Tem sido publicado pela CET regularmente desde 2013 (referente aos dados de 2012) sempre no primeiro semestre, sendo que a última edição disponível no site da empresa foi publicada em maio de 2021, referente aos sinistros de 2020. Ou seja, entramos em 2023 e não ainda não temos o relatório de 2021.

As desculpas do atraso do relatório de 2021 começaram a partir da primeira cobrança registrada na reunião de agosto do CMTT. A SMT alegou problemas na plataforma digital Infosiga, um sistema administrado pelo Governo do Estado de São Paulo que reúne todos os dados contidos em boletins de ocorrência da Polícia Civil referentes às mortes e lesões ocorridas no trânsito de todas as cidades do estado. Depois, durante uma reunião da Câmara Temática da Bicicleta, Dawton disse que documento estaria atrasado pois precisaria ser aprovado pelo prefeito Ricardo Nunes antes de ser publicado.

Durante a última reunião do CMTT, ocorrida em dezembro, eu fiz uma provocação a partir de uma informação que obtive com uma fonte da CET. O atraso se dava porque o relatório estaria mostrando um aumento de mortes e lesões de trânsito, principalmente entre motociclistas. Mas, uma das técnicas da CET presentes na reunião, defendeu o departamento de estatística jogando toda a culpa nos problemas do Infosiga. Chegou a dizer que minha informação era “teoria da conspiração”.

Eu confio nas minhas fontes. Dizer que o atraso no relatório é culpa do Infosiga é balela, pois o problema apresentado pela plataforma aconteceu nos meses de agosto e setembro de 2022, e devidamente registrado no perfil do Jornal Bicicleta no Twitter. Estamos falando dos sinistros de 2021 e a totalização do Infosiga para 2021 se deu em 20 de janeiro de 2022, sem qualquer problema).Logo, a desculpa não cola.

Há sim outros condicionantes para tal atraso, tal como a falta de funcionários para fazer o documento, uma vez que a CET promoveu programas de demissões voluntárias que têm sobrecarregado o pessoal remanescente e provocado queda na qualidade dos serviços (você tem notado os frequentes problemas com semáforos, certo?).  

Até o ausente secretário Teixeira sabe disso. Em uma vídeo-mensagem de Natal enviada para funcionários da CET, disse que o prefeito já tinha autorizado a realização de concurso público para repor o pessoal aposentado. Só não informou, logicamente, qualquer previsão de quantidade de vagas ou data do exame, uma vez que atualmente todos os esforços da SMT é vender a eficácia da faixa exclusiva para motos que fizeram nas avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes como a pedra de salvação das mortes e lesões de motociclistas no trânsito da Capital, mas isso é tema para outro artigo.

Imagem da abertura: captura Rede Globo