Serviço da Tembici entra em crise em Bogotá, revela reportagem do El País

Fto de Dario Hidalgo no X

O sistema de bicicletas compartilhadas da Tembici, lançado há três anos na capital colombiana, enfrenta uma queda acentuada de utilização, problemas de manutenção e incertezas quanto à sustentabilidade do negócio. Segundo reportagem de Camilo Sánchez publicada no jornal El País (18 de setembro de 2025), o número de viagens caiu 27,15% nos oito primeiros meses do ano e dezenas de estações foram retiradas temporariamente devido a vandalismo.

A Tembici, que mantém contrato com a prefeitura de Bogotá até 2029, informou que 150 pontos de aluguel foram suspensos após sucessivos casos de furtos de peças, pneus furados e vandalização de bicicletas. Usuários relatam frustração com a dificuldade para encontrar unidades em bom estado e críticas se multiplicam nas redes sociais.

Usuário em Bogotá reclama da falta de manutenção: “caindo aos pedaços”

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam falhas estruturais no modelo. O urbanista Darío Hidalgo, um dos usuários que desistiu de usar o serviço, afirma que o sistema já nasceu deficitário e que a falta de subsídios públicos agravou a crise. Além disso, os custos de manutenção, redistribuição da frota e o aumento da tarifa — de 1.300 para 4.850 pesos colombianos (de 0,30 para cerca de US$ 1,24) por viagem — afastaram usuários.

Hidalgo no X: “Se o contrato não funciona e não tem equilíbrio financeiro, melhor encerrá-lo”

A experiência em Bogotá reflete desafios semelhantes enfrentados pela empresa em outras cidades, como Santiago do Chile, onde patrocinadores chegaram a questionar judicialmente a operação. Para o urbanista Fernando Rojas, a gestão excessivamente privada e a falta de acompanhamento do poder público foram determinantes para o desgaste do sistema.

Apesar disso, a reportagem destaca que as bicicletas compartilhadas já fazem parte da política de mobilidade sustentável da cidade. Para a ex-secretária de Mobilidade, Deyanira Ávila, medir o impacto apenas pelo número de viagens é “reducionista”, pois a bicicleta representa também inclusão social, melhoria da qualidade do ar e redução da desigualdade de gênero.

Enquanto a prefeitura de Bogotá ainda não apresenta soluções concretas, a rede de mais de 600 km de ciclovias segue como pilar da mobilidade ciclística, reforçada pela tradicional Ciclovia Dominical, quando grandes avenidas ficam fechadas para carros e se abrem para pedestres e ciclistas.

No Brasil, empresa ainda não divulgou balanço de 2024

No Brasil, a situação da empresa também é desconfortável. Conforme este blog revelou no ano passado, a Tembici retirou todas as bicicletas elétricas do Bike Sampa em São Paulo e acumulava três anos consecutivos de prejuízos, sendo R$ 89,21 milhões apenas em 2023 e R$ 457 milhões desde o início das atividades como sociedade anônima. Ao mesmo tempo, havia conduzido demissões em massa incluindo quase toda a diretoria e encerrado as atividades da unidade industrial de Manaus.

A redução do sistema na capital paulista incluiu retirada de estações em bairros como Morumbi, Santana, Barra Funda e Chácara Santo Antônio, diminuindo a cobertura e a oferta de bicicletas mecânicas. Promessas de expansão, como a meta de 1.200 elétricas anunciada em 2022, e extensão da cobertura para bairros fora do centro expandido não foram cumpridas.

Neste ano, a empresa ainda não publicou os balanços financeiros referente ao exercício de 2024, o que é uma obrigação legal para sociedades anônimas (S.A.). Sinal de que os prejuízos não devem ter sido revertidos. A empresa também não publicou a ata da assembleia geral ordinária (AGO), outra obrigação legal para S/As, que devia ter sido realizada ainda no primeiro semestre.

O blog está à disposição caso a empresa queira se manifestar.

Foto da abertura: Estação da Tembici em Bogotá – Dario Hidalgo, no X


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