Nunca vi presidente inaugurar fábrica de bicicleta

Sabem qual foi a última vez que um presidente da República pisou numa fábrica de bicicletas? Pois é, também não sei. Fiquei curioso, pois o que mais tenho visto no noticiário é Lula inaugurando fábrica de carros e de ônibus, autorizando a Petrobras a explorar petróleo na foz do Amazonas, liberando CNH sem autoescola e, em alguns casos, até dando de graça a habilitação. E sem falar no incentivo financeiro que o governo federal tem dado para quem quer comprar uma motocicleta e fazer uma moeda na quebrada, incentivo esse que faz as vendas desse tipo de veículo bater recordes sucessivos — e os óbitos de trânsito também!

Para nós, ciclistas, que defendemos o direito de pedalar como forma de transporte é complicado ser lulista e tentar convencer os “anti” que diante da luta contra os fascistas é ele ou a barbárie. E como não tem como debater com anarquista e os ambientalistas radicais, porque estão certos na essência — o que podemos fazer é aquiescer, pois possuem argumentos convincentes de que o presidente poderia exercer mais poder para beneficiar a sustentabilidade na mobilidade, etc e tal. Só que na realpolitik, isso não funciona.

É certo que existem iniciativas na esfera federal para incentivar uso da bicicleta, tais  como o Programa Bicicleta Brasil e a Estratégia Nacional da Bicicleta no Ministério das Cidades. Ela também está prevista como ferramenta para mitigar a poluição veicular dentro do Acordo de Paris. Junto com a caminhada, faz parte das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) e deve ser mencionada na próxima COP em Belém. Tem que ser. E aparece no programas Caminhos da Escola e Programa de Aceleração do Crescimento. Mas ainda é muito pouco.

Também  achei uma notícia de julho de 2024 da Tribuna do Norte mostrando o vice-presidente Geraldo Alckmin visitando uma das grandes fábricas de bicicletas do Brasil, a Ciclo Cairu, em Pimenta Bueno (RO). Diz o texto que a empresa produz cerca de 60 mil bicis por mês, o que é quase o dobro daquelas que são produzidas na Zona Franca de Manaus, mas que vivem um momento de ocaso com a produção caindo de 900 mil em 2019 para 350 mil em 2024, segundo a Abraciclo. Uma lástima.

Descobri que essa mesma Cairu irá inaugurar uma fábrica em Manaus para produzir pneus de bicicleta e também de motos, afinal é o mercado que mais cresce e tem atraído o olhar de tudo que é político e empresário. Por sinal, dias atrás, Lula estava com representantes dessas empresas donas de aplicativos de transporte e entregas, dessas que suam o capital. O governo tenta de alguma maneira regulamentar a profissão de motorista e entregador autônomo, o que é muito difícil, já que nem os próprios trabalhadores querem interferência, pois sentem-se empresários de si mesmo. Não compensa, dizem. 

Ainda tenho a esperança que o governo Lula apresente algum incentivo para a mobilidade por bicicleta que seja eficiente em uma escala que desencadeie uma grande adesão de municípios. Antes eram os Planos de Mobilidade que teriam essa tarefa, mas foram desidratados ao longo do tempo e ninguém mais respeita. 

 Talvez a última oportunidade seja o estudo da Tarifa Zero que o Ministério da Fazenda está conduzindo a pedido do presidente. Como o ministro é Fernando Haddad, que construiu mais de 400 km de ciclovias e ciclofaixas quando era prefeito em São Paulo, são grandes as chances de a bicicleta aparecer como um relevante apoio para alcançar o sucesso do programa cuja missão é deixar gratuito o transporte público para a classe trabalhadora, conforma manda a Constituição.  Exemplos não faltam. Cidades como Maricá e Fortaleza, ambas administradas por petistas, possuem sistemas de bicicletas compartilhadas integradas em terminais de ônibus com bons índices de eficiência. Vamos torcer.


Descubra mais sobre Jornal Bicicleta

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.