Muriel Syriane Velusa tem 55 anos. Entre muitos papeis sociais, é professora de espanhol aposentada. Muriel não é brasileira nata. Aos 18 anos, veio da Argentina para o Brasil de férias com amigas. Um amor de verão a fez alongar sua estadia no Brasil, onde está há quase 40 anos.
Moradora de Paranaguá, litoral do Paraná, a relação dela com a bicicleta começou como uma pequena revolta sobre quatro rodas. Mãe de três filhos, diariamente ela passava horas no carro, levando as crianças para a escola e indo para o trabalho. O estresse e o cansaço de dirigir todos os dias a faziam refletir: “Cem quilômetros por dia de carro é muita coisa. Isso não fazia sentido!”, relembra.
A mudança veio em 2009, quando um professor de matemática da escola em que ela lecionava a surpreendeu ao contar que fazia o trajeto de 90 km entre Curitiba e Paranaguá de bicicleta. “Isso me abriu o horizonte. Primeiro, achei que era mentira. Depois, entendi que era uma possibilidade”, disse. Desse ponto em diante, decidiu trocar de vez o carro pela bicicleta, e o fez assim que os filhos ganharam independência. Pedalar se tornou não apenas uma escolha de mobilidade, mas um ato de resistência.
Muriel passou a integrar movimentos de cicloativismo, como a CicloIguaçu — uma associação de ciclistas em Curitiba —, a Bike Anjo local e o nacional. Hoje, ela também ocupa o posto de conselheira regional na União de Ciclistas do Brasil (UCB) para a região Sul. O ponto de partida no ativismo surgiu durante o 3º Fórum Mundial da Bicicleta, em Curitiba. Encantada pela colaboração e empatia da rede de ciclistas do evento, Muriel mergulhou de vez nesse universo. “Cada vez mais, a gente vai ‘virando’ cicloativista, porque não tem como ignorar o que se vê pedalando”, conta.
Apesar de viver em uma cidade com pouca infraestrutura cicloviária, encontra força na rede de apoio formada por ciclistas de Curitiba e de outras partes do país. “Eu sei que, mesmo em Paranaguá, onde não me sinto tão acolhida, tenho apoio em outros lugares”, destaca, referindo-se ao poder das conexões construídas nos eventos e fóruns de que participa.
É preciso contar uma experiência que viveu cicloviajando. Em 2023, ela e a ciclista Patricia Villas resolveram se aventurar pela maior praia do mundo. A Praia do Cassino fica no litoral gaúcho e possui 220 km de extensão. Esticaram o pedal e passaram também pelo Uruguai e pela Argentina. Para Muriel, a emoção foi forte quando passou por Buenos Aires, sua terra natal, com sua bicicleta e todas as ciclovivências que teve até ali.
Para ela, a bicicleta é mais que um meio de transporte: “A bicicleta é vida, movimento é vida! É conexão, é paz, é proximidade do que realmente vale a pena”.
Foto: Doug Oliveira Leforte
A entrevista ocorreu no mês de Setembro/2024 durante os eventos FMB e o Bicicultura em Brasília/DF.
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