Falzoni declara que não vai votar em Nunes, mas esquiva-se de apoiar Boulos

Uma parte do cicloativismo paulistano de esquerda vem cobrando o posicionamento público da companheira de Massa Crítica, Renata Falzoni, a favor Guilherme Boulos (PSOL), que disputa com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) o segundo turno da eleição municipal no próximo domingo.

Na noite desta de quinta-feira, 24/10, e faltando menos de três dias para o pleito, ela postou um vídeo em que revela os motivos que vão fazê-la não votar em Nunes, mas sem mencionar em quem vai votar. Segundo ela, os motivos para o não apoio são o aumento de mortes de trânsito, o não cumprimento de metas de construção de ciclovias e outros problemas com a mobilidade que são conhecidos de quem vive e cobre o assunto.

Neutralidade branda

Eleita vereadora pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) com 30.206 votos, a jornalista e cicloativista de 71 anos, está optando, publicamente, por uma neutralidade branda. Algumas pessoas com quem conversei e que estiveram com ela nos últimos dias, ouviram que ela vai votar no psolista, mas não vai fazer anúncio nas redes para não melindrar as parcelas da direita bolsonarista e de antipetistas que ajudaram a elegê-la. E eles são muitos.

O posicionamento, por sua vez, está em linha com as diretrizes do PSB. Logo após saber que tinha ficado em quarto lugar na disputa pela prefeitura no primeiro turno, a presidenta do diretório municipal, Tábata Amaral assinou uma resolução para “liberar seus filiados para se posicionarem, expressarem-se e votarem de acordo com sua consciência e compreensão política”. Ao mesmo tempo, recomendou voto “na candidatura Coligação Amor por São Paulo”, formada pelo PSOL, REDE, PT, PV, PC do B e PDT.

Falzoni, porém, não está sozinha nesse movimento de abstenção. Em um levantamento realizado nas redes sociais dos 55 vereadores e vereadoras eleitas, ela figura em uma lista em que aparecem tanto o companheiro de PSB, Eliseu Gabriel, quanto o vereador do PV, Ricardo Trípoli – partido que está federado com o PT. Somam-se ao trio os candidatos eleitos de – direita – Pastora Sandra Alves e Adrilles Jorge, ambos do União Brasil. Já o restante ou é Nunes ou é Boulos.

Alguns apoiadores da vereadora eleita argumentaram que Renata não precisaria dar essa declaração pública, uma vez que tanto o PSB quanto figurões do partido integrantes do Governo Lula, já estariam fazendo esse serviço. Tanto o vice-presidente Geraldo Alckmin , quanto Márcio França (com ela na foto de abertura), ministro do Empreendedorismo, gravaram declarações contundentes para a imprensa e foram as grandes estrelas no palco do Teatro Gazeta em evento de apoio a Boulos realizado na noite de terça-feira, no qual a ciclista-vereadora compareceu, sentou em uma das primeiras fileiras, mas não subiu ao palco.

Vai pra Paris

Ao longo dos dias, nos grupos de WhatsApp cicloativistas, apareceram muitas queixas dessa abstenção.  “Um silêncio ensurdecedor” e “é triste que não se posicione”, são algumas das frases usadas nas conversas para demonstrar a indignação pelo fato dela ter ficado em cima do muro durante quase todo o segundo turno, em um momento em que Nunes tem larga vantagem nas pesquisas. 

Tem gente que, jocosamente disse que Falzoni “vai para Paris”, comparando a atitude dela com a de Ciro Gomes, que disputou o cargo de Presidente da República pelo PDT em 2018, não passou para segundo turno, e se mandou de férias para a França para não ter que apoiar Fernando Haddad (PT) contra o adversário de extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL), que venceu o pleito.

“Declarar apoio em Boulos. É uma questão de coerência. Com o Nunes na prefeitura ela não vai conseguir cumprir o que prometeu na campanha”, reclamou uma professora veterana da mobilidade.

Outro cicloativista foi mais categórico. “Estamos ralando no segundo turno desde o dia primeiro, panfletando na rua, fazendo eventos, pedais, produzindo materiais nas redes sem absolutamente nenhuma ajuda dos cicloativistas de maior alcance, que consideraram que o trabalho acabou com a eleição da Falzoni. Eu tô exausto, o silêncio ensurdecedor do cicloativismo na semana final da disputa entre candidaturas de diferença abissal. Essa postura a la Ciro Gomes não é legal e vai cobrar seu preço lá na frente”, escreveu.

Um posicionamento evasivo

Eu perguntei para Falzoni, na semana passada, qual seria o posicionamento dela, em quem ela declararia apoio. Ela respondeu com uma nota:

“Prezado, hoje (14/10) a coordenação da campanha da vereadora eleita Renata Falzoni terá uma reunião com a coordenação da equipe do candidato Guilherme Boulos, com o intuito de alinhar estratégias e ações. Está marcado para os próximos dias um café entre a vereadora eleita Renata Falzoni e o candidato Guilherme Boulos, cujos resultados serão divulgados posteriormente. No mais, estamos todos empenhados em mostrar os retrocessos profundos que estão ocorrendo na cidade, com destaque para o aumento das mortes no trânsito, a precarização do transporte coletivo, o abandono das políticas cicloviárias, dentre outros retrocessos.”

Matéria da Coluna Ciclocosmo, da Folha, com Falzoni

Esse encontro, aconteceu no dia seguinte. E eu perguntei ao seu chefe de campanha, Daniel Guth o resultado e repeti a mesma pergunta feita feita a ela.

“A resposta é muito simples: estamos todos apoiando (o Boulos), inclusive a Renata. E ontem (14/10) traçamos uma estratégia com a coordenação da campanha do Boulos. Eles nos mostraram o perfil dos votos que ainda não estão convictos no Nunes e vamos focar neles. Que o foco é buscarmos aumentar rejeição ao Nunes e mostrar os erros da gestão. É onde vamos focar.” respondeu.


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