O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, resolveu acabar com a meta numérica de reduzir a mortalidade do trânsito estipulada no Plano de Metas 2021/2024. Agora, na Meta 39, o objetivo específico de alcançar de 4,5 óbitos por 100 mil habitantes foi substituído pela genérica, “cumprir 18 ações para a redução do índice de mortes no trânsito”.
A alteração do Plano de Metas não é a toa. A atual secretaria de mobilidade da cidade dirigida pelo vereador Ricardo Teixeira (União) não quer ou não tem competência para frear a retomada da curva ascendente de óbitos provocados por carros, motos, ônibus caminhões e bicicletas na cidade, que vem subindo desde 2018.

O recorde de baixa nos óbitos de trânsito aqui na cidade foi em 2017, com 6,56 casos por 100 mil habitantes, referente à 762 óbitos, a mínima histórica. A redução da sinistralidade foi resultado da política implementada pelo governo de Fernando Haddad (PT) entre 2013 e 2016. Ele combateu a mortalidade do trânsito acalmando vias, reduzindo velocidades, aumentando a fiscalização e punição e reduziu a tragédia consideravelmente. Em 2014, o índice era de 10,47 mortes por 100 mil/hab, referente à 1.195 casos.

Porém, o sucessor de Haddad, João Dória (PSDB), foi na contramão das recomendações de especialistas mundiais em mobilidade e segurança viária e retomou velocidades de 90 km/h nas marginais Tietê e Pinheiros; Cumprindo a promessa de campanha, afrouxou fiscalização e usou e abusou do bordão “Acelera São Paulo!”
Com isso, as mortes e o índice voltaram a subir. No último relatório da CET, de 2021, já está no patamar de 6,64 mortes por 100 mil habitantes, referente à 797 óbitos. Em 2022, ainda que não tenham sido analisados pela CET, a Plataforma Infosiga, do governo estadual, mostra que a cidade registrou 904 óbitos de trânsito, o que daria um índice de 7,3 óbitos por 100 mil habitantes.

O certo é que, se os doutores da CET implantarem as 18 ações e ainda assim os óbitos continuarem subindo, pouco importa, pois estarão cumprindo com o Plano de Metas e, na campanha eleitoral do ano que vem, é isso que importa para que o prefeito seja visto como bom administrador e tenha chance de reeleição.
É mais um jeitinho brasileiro para safar-se da responsabilidade moral e ética dos administradores e planejadores dos sistemas de trânsito de buscar a Visão Zero, conceito sustentado pela premissa de que nenhuma morte no trânsito é aceitável. O papel aceita tudo,


Crédito das fotos. Rogério Viduedo: protesto e instalação de memorial pelo atropelamento do ciclista-entregador Claudemir Kauã realizado na avenida Corifeu de Azevedo Marques, Zona Oeste de São Paulo, em 18/02/2022. A prefeitura prometeu uma ciclovia nos 5 quilômetros da avenida mas, até o momento, sequer começou as obras.
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