Mais um jovem perdeu a vida para a violência no trânsito. Luiz Eduardo Scoz, 23 anos, ciclista diário e trabalhador, teve a vida interrompida após grave colisão com veículo utilitário na tarde de 12 de novembro de 2025, em Blumenau (SC). Ele chegou a ser socorrido com vida, mas não resistiu aos ferimentos — traumatismo craniano, fratura de fêmur e múltiplas escoriações — e morreu na madrugada de 13/11. O motorista permaneceu no local e prestou socorro.
As informações veiculadas na mídia local indicavam que Luiz teria cortado a frente do carro, mas a dinâmica do acidente ainda é incerta. Apesar da existência de várias câmeras de segurança próximas ao cruzamento onde ocorreu a colisão, nenhuma imagem foi divulgada.
Luiz era formado em Gastronomia e trabalhava em dois restaurantes da cidade. A bicicleta não era um hobby, era seu principal meio de transporte entre casa e os empregos. Amigos e familiares o descrevem nas redes sociais como alguém dedicado, querido e cheio de vida; características que tornam sua morte ainda mais impactante.
A manifestação
Dois dias após a morte, dia 14, cerca de 30 ciclistas realizaram uma manifestação no local do acidente. O ato, que incluiu o fechamento simbólico do cruzamento por alguns minutos, reuniu amigos, colegas e desconhecidos.
Durante a manifestação, uma ghost bike — bicicleta pintada de branco, símbolo internacional para ciclistas mortos no trânsito — foi instalada no local, acompanhada de uma coroa de flores com a frase que Luiz costumava compartilhar em suas redes: “A vida presta e não é pouco.” Em seguida, os participantes seguiram em bicicletada até um dos locais de trabalho do jovem, em um trajeto de cerca de três quilômetros, marcado por buzinas e demonstrações de impaciência de motoristas.

A mobilização foi organizada pela Associação Blumenauense Pró-Ciclovias (ABC) e pelo grupo Fixed Gear Blumenau (FGBNU).
Os manifestantes
Para Vidal Caetano, coordenador-geral da ABC, a morte de Luiz reforça a urgência de um debate profundo sobre a violência no trânsito urbano. Segundo ele, a agressividade observada nas vias é parte de uma cultura de pressa e desatenção.
“Quando conduzem veículos motorizados, as pessoas se transformam e se deixam levar pela sensação de poder. O pedestre, o ciclista, a faixa de pedestre se tornam obstáculos”, afirma. “A mudança vem de ações pequenas e constantes, somadas a campanhas e reivindicações.”
A manifestante Patrícia Barthel, presente no ato, afirma que convive com o medo desde que o marido passou a pedalar diariamente.
“Sempre peço que ele avise quando chega bem. Há dezesseis anos convivo com o receio de que algo sério aconteça.”
Ela também critica a prioridade do poder público. “Seria um marketing fantástico garantir um trânsito pacífico, com mais fiscalização e atuação. Mas o cuidado com pedestres e ciclistas parece sempre ficar em segundo plano.”
Para Bruna Kleine, uma das organizadoras, o ato foi mais do que indignação: foi união. “A manifestação foi importante porque mostra que ninguém está sozinho. Quando a gente se reúne, a nossa voz ganha força. Entre não fazer nada e tentar algo juntos, eu escolho tentar.”
Bruna reconhece a dificuldade imposta pela cultura individualista da região, mas insiste na importância da ocupação coletiva do espaço público. “Se queremos um trânsito mais humano, precisamos estar juntos.”
Pedalar em Blumenau exige coragem
Quem circula de bicicleta pela cidade convive com vias rápidas, trechos sem ciclovias, cruzamentos caóticos e a impaciência recorrente de motoristas. Pedalar aqui exige atenção constante, antecipação e, muitas vezes, coragem. Quem diz isso não são somente os ciclistas, mas os próprios motoristas.
Não é raro sentir o ar sendo deslocado por carros que passam perto demais ou ouvir buzinas impacientes quando um ciclista apenas ocupa o espaço que lhe é de direito. É nesse ambiente, marcado por desigualdade na disputa pelo espaço público, que Luiz pedalava todos os dias.
A morte de Luiz, transforma sua história em um alerta. Ele se torna símbolo, lembrança e, sobretudo, cobrança. Blumenau precisa encarar a mobilidade ativa não como obstáculo ou detalhe, mas como política pública essencial, que envolve compromisso coletivo, fiscalização, educação e vontade política.
Afinal, a vida presta e não é pouco!
Esta reportagem contou com o apoio de uma ferramenta de inteligência artificial para revisão textual, cabendo a jornalista todas as decisões finais de apuração, redação e edição.
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