Defender o uso da bicicleta como transporte e ser lulista e petista te faz vilão duas vezes: a primeira é ir contra as indústrias liberais do petróleo e automobilística. Se você quer perder financeiramente na vida, fique contra elas, pois a penúria é certa. O Maduro, lá na Venezuela, que o diga. Uma pessoa como tal nesse campo da economia é o exemplo vivo do significado de um texto horroroso que se divulga na Internet. “A bicicleta é a morte lenta do planeta”. Com tal afirmação, justifica-se qualquer demanda anti bicicleta entre o terço da população paulistana, por exemplo, que nunca cogitou e sequer cogita usar a bicicleta para se locomover.
A segunda vilania vem do lado ativista da bicicleta que em geral assume posição consolidada contra a “ditadura do automóvel”, ainda que seja financiada pela banca que muda o mundo, pois as controvérsias são parte da existência humana. Ela critica duramente todas as medidas do Governo Lula em relação ao meio ambiente, como a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, os generosos incentivos para produção local de automóveis e motocicletas, sejam elas movidas a gasolina ou a bateria de lítio e facilita a vida de motoristas abolindo a intermediação de autoescolas para obtenção da CNH.
Até aí tudo bem. Sabemos que as indústrias do petróleo e dos automóveis são ruins, que o capitalismo é selvagem e nessa linha de pensamento várias outras coisas são ruins nesse modo de vida que nos foi imposto pelas potências coloniais. Só que infelizmente nessa democracia brasileira é preciso conciliar classe para não cairmos em outra ditadura. Eu não quero bater continência para fascista e mesmo no nosso campo de esquerda temos que fazer a discussão política por necessidade de sobrevivência.
Por isso, junto com o nosso Ciclomitê Popular de Luta Pedalula, apoio a seriedade do Presidente Lula na condução do país. E não é fanatismo. Ele não é mito nem messias e não vai agradar todo mundo, mas é comprometido com o combate à desigualdade social e sabe da importância da bicicleta, tendo recebido em um grupo cicloativistas em 2018 junto com Dilma e Haddad.
Seria lindo que ele abraçasse a revolução ambiental e anárquica dos pluncts, pancs e zun ou dos comunistas trotskistas em busca do controle dos meios de produção, mas a realidade é dura e crua, já que as bancadas BBB e da extrema direita fazem e acontecem em Brasília e nem a indústria da bicicleta ou a comunidade de cicloativistas têm muita nenhuma influência por lá.
Ano que vem, a despeito das discordâncias, ciclistas do Pedalula continuarão pedalando nas ruas para defender a democracia e a reeleição do presidente como forma de evitar que a extrema direita volte ao poder e assuma de novo todas as negociações ambientais e energéticas do Brasil com o mundo. Se isso acontecer, quem vai explorar petróleo na Foz do Amazonas serão as empresas do Donald Trump e aí que a vaca irá mesmo pro brejo. Será a volta das trevas que nos cobriram de 2016 a 2023 quando o Van Temer e o Bozo entraram no poder a partir do golpe contra a presidenta Dilma e espalharam suas sementes do mal e que agora vêm se multiplicando, gerando ódio e miséria por onde passam
Lembrem-se de que caso o Coiso continuasse no Palácio do Planalto e não numa cela da Polícia Federal, sequer haveria COP30 no Brasil para que se reclamasse a falta do bicicletário nas instalações da conferência realizada em Belém (PA).
Além do mais, julgar o governo Lula e dizer que está só governando para carros, é azedar palavras contra o ex-sindicalista e metalúrgico, coisa corriqueira no jornal lá do Limão. Lula já andou por tudo que é quebrada e viu que facilitar a obtenção da CNH será mais uma forma de distribuir renda, ainda que haja problemas de saúde devido a sinistros de trânsito que podem ser reduzidos com uma política de segurança viária eficiente. Só quem já subiu e desceu morro em favela andou pelas distantes periferias dos aglomerados urbanos sabe o perrengue que é ir para o emprego diariamente e uma moto é melhora de condições de vida.
Ele sabe que essas pessoas não querem esperar a revolução urbana para poderem comer e viver melhor. Adotar o “mais amor menos motor” não enche barriga. Como disse Betinho, o irmão do Henfil, “quem tem fome, tem pressa” e assim, por que não facilitar ao entregador e entregadora a troca da bicicleta pela moto se isso vai gerar mais renda na quebrada?
Você é contra? Ouça agora essa entrevista que fiz com o Rogério Rai, fundador do Pedale-se, lá de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Ele explica qual é a visão que a quebrada tem do cicloativismo e qual é importância que uma moto tem na economia local.
Para finalizar, também não é justo dizer que não se incentiva a bicicleta âmbito federal. O Ministério das Cidades assumiu a Estratégia Nacional da Bicicleta e por isso obtivemos duas grandes vitórias que se entrelaçam devido ao empenho dos técnicos da Secretária Nacional de Mobilidade Urbana. A primeira é o êxito do Prêmio Bicicleta Brasil cuja segunda edição foi concluída em novembro e já se planeja a terceira. De um ano para o outro quadruplicaram-se as inscrições e muito bons projetos ficaram em evidência, gerando boas repercussões pelo País.
A segunda vitória foi ver a bicicleta, junto com a caminhada, ser incluída como ferramenta de enfrentamento ao aquecimento global no Plano Clima, que é a estratégia nacional de adaptação e mitigação à emergência climática. Ela também aparece na revisão do compromisso do Brasil no Acordo de Paris, no documento chamado, Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, em inglês), apresentado oficialmente nesta mesma COP30.
Então, calma, pois as políticas públicas para o transporte por bicicleta estão ativas em nível federal e podem ser ainda mais potencializadas caso avancem negociações em torno da implantação da tarifa zero no transporte público, tema sobre o qual Lula já pediu um estudo completo para os ministérios e que deve ser uma grande bandeira do segundo mandato, pois uma vez implantado, será uma nova forma de distribuir renda.
Por consequência, vai surgir uma grande oportunidade para ativistas do transporte ativo contribuírem com projetos de bicicletas públicas e caminhos seguros como solução de apoio para esse novo sistema de transporte público.
Foto: Ricardo Stuckert – 8/03/2018
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