Ruth Costa, 47 anos, é cicloativista e vive em Belém, capital do Pará. Preta e periférica, ela é mãe de quatro filhos e avó de quatro netos. Ruth utiliza a bicicleta em 100% de seus deslocamentos pela cidade.
Ao contrário de muitas crianças que aprendem a pedalar desde cedo, seu primeiro contato com a bike aconteceu aos 20 anos e não foi por diversão. “Aprendi a pedalar por necessidade, para levar minha filha à escola, já que o transporte coletivo na periferia era escasso. Além disso, eu também queria economizar a grana que gastava com o ônibus, pois, assim, poderia comprar pão e alimentos”, conta.
A trajetória de Ruth é marcada por lutas. Nascida em uma comunidade quilombola em Concórdia (PA), se mudou para a capital aos 11 anos, sonhando em continuar os estudos, mas a maldade humana tomou lugar. Se tornando uma vítima de trabalho escravo infantil. Sobre sua chegada em Belém, conta que “Vim para Belém para estudar, pois não havia mais a 5ª série na minha comunidade, e acabei virando empregada doméstica. Fui vítima do trabalho escravo infantil e trabalhei como empregada doméstica até bem pouco tempo atrás”.
Em 2015, a bicicleta mudou a trajetória de Ruth quando ela se tornou voluntária da Bike Anjo Belém. Como ciclista, ela começou a se incomodar com a falta de infraestrutura adequada e os problemas no transporte público, especialmente na periferia. “Comecei a discutir mobilidade urbana e o direito à cidade, tudo relacionado à nossa qualidade de vida no trânsito”, comenta.
Em 2017, dentro do Bike Anjo, Ruth viu que sua história se repetia. Muitas mulheres procuraram o projeto para aprender a pedalar e, por diversos motivos, não tiveram essa oportunidade na infância. Assim nasceu o Pedala Mana, um projeto que encoraja mulheres a pedalar por aí. “Tinha algumas que aprendiam a pedalar, mas tinham medo de ir para a rua. O projeto ajuda essas mulheres a perderem o medo das ruas”, destaca.
Hoje Ruth integra também o Coletivo ParáCiclo, onde elabora projetos voltados para editais públicos e privados. Seus projetos, além da bicicleta, abordam temas como transporte digno nas periferias, questões femininas e a crise climática. “Tenho trabalhado muito para mostrar ao Poder Público todas essas demandas sociais”, enfatiza.
Para Ruth, a bicicleta vai muito além da locomoção: “A bicicleta, para mim, é transformação! Desde que comecei a pedalar, mudei significativamente meu modo de viver e ver a vida. Me trouxe liberdade, saúde e felicidade!”.
Foto: Doug Oliveira Leforte
A entrevista ocorreu no mês de Setembro/2024 durante os eventos FMB e o Bicicultura em Brasília/DF.
“Quem pedala por aí?”, Por Anna Coirollo
Em cima da bicicleta, cada pessoa carrega mais do que seu próprio peso: leva histórias, lutas, sonhos e trajetos que vão muito além de um simples deslocamento. Nesta série de perfis, conhecemos a história de quem escolheu a bicicleta como meio de transporte, trabalho, saúde, diversão, ferramenta de militância, companheira de longas viagens e de vida.
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Ruth é força, inspiração e alegria ♥️🚲🎈
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