Na primeira entrevista da série que a Rádio CBN e o jornal O Globo faz nesta semana sobre as propostas de mobilidade dos pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, o escolhido do prefeito Ricardo Nunes para falar do assunto foi Edson Aparecido (camisa azul), atual secretário de Governo. Durante meia hora, falou apenas 1 minuto de ciclovias apresentando números inflados e desinformando a audiência.
“São Paulo tem 731 quilômetros de ciclovias. Nós conseguimos fazer (neste mandato) 228 quilômetros. Estamos revitalizando 303 quilômetros de ciclovias na cidade e mais 170 quilômetros estão em projeto.”, disse para as jornalistas da rádio. A declaração pode ser ouvida aqui ou lida aqui.
O número de quilômetros de ciclovias não chamou a atenção das jornalistas, que não perceberam o malabarismo aritmético do entrevistado. Para chegar aos 228 quilômetros, um número robusto, ele juntou aproximadamente 181 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas entregues no mandato Dória/Covas (2017-2020), com aproximadamente 40 quilômetros possivelmente implantados pelo atual mandato Covas/Nunes, iniciado em janeiro de 2021.
A imagem acima, por exemplo, foi retirada de uma apresentação da Secretaria de Mobilidade e Trânsito para integrantes da Câmara Temática da Bicicleta em reunião de abril de 2021. A SMT informou que a meta de 173 quilômetros prometidos no mandato anterior havia sido concluída, ainda que quatro meses atrasada. Ela também havia sido superada em 4,72%.
Na vida real, no entanto, o total entregado por essa administração segundo notícia publicada no site da prefeitura e postada no X, era de 23 km.
É verdade esse bilhete?
Já a meta do atual mandato é de trezentos quilômetros para o período entre 2021 e 2024. Ela foi apresentada na reunião da Câmara Temática da Bicicleta em agosto de 2021 quando o total de ciclovias e ciclofaixas existentes na cidade era de 681 quilômetros.
A conta é simples: 731 menos 681 é igual a 50 quilômetros implantados e mesmo esse número é controverso, pois as fontes oficiais disponíveis são divergentes.
Uma é do SP Ágil, website oficial da prefeitura que informa a evolução do cumprimento do Programa de Metas. Dos 300 quilômetros de estruturas cicloviárias previstos na META 43, o site mostra a conclusão de 68,86 quilômetros em abril deste ano, ou 23% da meta que deveria ser concluída até o fim do ano, mas não vai.
As outras fontes são as atas e apresentações das reuniões Câmara Temática da Bicicleta (CTB). Por elas, a entrega “deste mandato” é ainda menor e não passaria dos 40 quilômetros, conforme a ata e apresentação da reunião de 7 de junho e repetida na reunião de julho.
Nela, o coordenador do Plano Cicloviário da Secretaria de Mobilidade, Dawton Gaia, informa que naquele momento haviam sido implantados 40 quilômetros – 10 acima dos 30 que constam nos slides da apresentação que ele usou na reunião, referentes à 20 quilômetros das concorrências de 2022 e outros 10 resultantes da Parceria Público Privada da Habitação.
Licença aritmética
As adoções das licenças aritmética e semântica de Edson Aparecido nos números de ciclovias e ciclofaixas foram corroboradas pela assessoria de imprensa da prefeitura.
“Esclarecemos que a citação feita pelo secretário Edson Aparecido, em entrevista concedida à Rádio CBN, na última segunda-feira (15), referia-se a implantação de 228 km de ciclovias em São Paulo levando em consideração as obras realizadas durantes as gestões Bruno Covas (2018-2021) e Ricardo Nunes (2021-2024)”, diz a nota.
No entanto, o próprio Aparecido, deixa bem evidente no início da prestação de contas aos jornalistas, que está falando do mandato Covas/Nunes iniciado em 2021.
“Nos temos durante esse período de quatro anos, da gestão Bruno Covas e Ricardo Nunes, nós fizemos investimentos em áreas estruturantes do ponto de vista do transporte de massas da cidade, aumentando os corredores, o que que extremamente importante, temos 73 km de faixas exclusivas, 58 dessa porcentagem foi feita na atual gestão, 135 quilômetros de corredores, algo em torno de 70% foi feito nessa gestão e iniciamos três novos corredores…”. Ele vai concluir minutos depois, falando das ciclovias, sem dizer que o período é de seis anos, como afirma a assessoria de imprensa.
A própria CBN destacou a palavra mandato entre parênteses, na edição do texto com a citação do Aparecido sobre ciclovias.
Está confuso certo? Pois é. Assista ao vídeo aqui para escutar você mesmo e entender que ele, quando chega nos números de ciclovias, não diz que estão incluídos os dados do mandato anterior.
Corredores de desinformação
A desinformação cometida por Edson Aparecido não parou nas ciclovias. Ele disse ainda que a cidade tem 73 km de faixas exclusivas de ônibus (pintura no chão, ônibus trafegam à direita), só que o site da SPTrans informa um total de 588 quilômetros.
Ao mesmo tempo, ele está correto sobre terem entregado 53 quilômetros, que é o número que está no site do SP Ágil com a menção Meta atingida. O problema é que esse número não representa 58% do total. Bem longe, mal chega a 10%.
A outra fake news é referente aos corredores exclusivos, que são aquelas estruturas de concreto existentes no canteiro central de avenidas como Nove de Julho, Rebouças e Consolação, por exemplo, nas quais os ônibus trafegam à esquerda dos carros.
“Dos 135 quilômetros existentes” (número bate com o site da SP Trans), “algo em torno de 70% foi feito nesta gestão”, disse Aparecido. Mentira!
A maioria dos corredores foram construídos em gestões petistas. Na gestão Marta Suplicy, foram 71 quilômetros (53% do total) e 42,3 km na gestão Fernando Haddad. Outros 12 km são da gestão Serra/Kassab (PSDB/PSD). Já a meta da gestão Dória/Covas (PSDB) que era de 72 km no início da gestão, caiu para apenas 9,4 quilômetros e nem isso fizeram.
Já o número informado pelo SP Ágil para as metas da atual gestão, de ousados 40 quilômetros, é da conclusão de apenas 6,8 quilômetros, o que representa apenas 5% do total.
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