Até o mundo mineral tinha conhecimento de que a Agência Coranda TV e Publicidade Eirelli, com capital social de R$ 100 mil e administrada por Maureen Regina T. Santos não teria dinheiro para bancar sozinha os gastos aproximados de 220 mil reais por dia de ativação dos 117 quilômetros da Ciclofaixa de Lazer de São Paulo, serviço que atrai milhares de pessoas para pedalar nas ruas da Capital paulista aos domingos e feriados.
Sem apresentar durante o chamamento público qualquer marca ou empresa com condições de bancar os seis meses de operação que custarão cerca de R$ 6 milhões, a Coranda apostou alto. Contratou os funcionários via CLT e assim teve um mês para pagá-los, ao mesmo tempo em que correu atrás dos patrocinadores para fechar as contas (só de salários são 500 mil/mês).
A administradora talvez imaginasse que, de posse do contrato com a prefeitura, e mostrando o serviço funcionando sem interrupções, poderia atrair algum cliente com interesse em ocupar os espaços publicitários disponíveis nos milhares de cones, bandeiras, guarda-sóis, camisetas e bonés, entre outros materiais usados para sinalizar as vias demarcadas para ciclistas.
O primeiro mês passou e ninguém soube de qualquer patrocínio. Veio o quinto dia útil de setembro, dia oficial para pagamento de acordo com a CLT e a Coranda deu o calote na geral. Está devendo os salários ou diárias de quem trabalhou em alguma e ou todas as seis ativações que ela fez desde 28 de agosto.
O dinheiro deveria ser depositado em 7 de outubro, mas não foi. Muita gente foi para a ativação do domingo 9 de outubro e reclamou. Alguns foram demitidos na mesma hora e a grande maioria recebeu um comunicado da coordenação avisando que não precisariam deles no feriado de 12 de outubro.
Nesse dia, só foram colocados os cones e outras sinalizações e todo mundo notou.
A TV Globo de São Paulo foi avisada da falta de funcionários e do calote e produziu algumas reportagens sobre o assunto para os jornais locais. Há várias declarações de trabalhadoras que literalmente pagaram para ir trabalhar. Além de ficarem sem as diárias de R$ 120,00, ficarão sem o dinheiro gasto antecipadamente com condução e alimentação.
O calote da Coranda impactou a vida de aproximadamente 600 pessoas e elas foram enganadas pela agência com a anuência da Prefeitura de São Paulo, mais precisamente a Secretaria de Mobilidade chefiada pelo vereador Ricardo Teixeira (União Brasil).
No afã de resolver logo o problema devido à desistência do Uber anunciada em julho deste ano e, assim evitar riscos de imagem em período eleitoral, deixou uma empresa desconhecida assumir uma obrigação financeira e social com trabalhadoras mesmo sabendo que era alto o risco de ela não conseguir o patrocínio para bancar os seis meses de uma operação.
Deveria ter incluído no edital a comprovação de capacidade financeira das empresas interessadas em patrocinar a ciclofaixa de modo a saber se poderia arcar com os seis milhões de reais em despesas com montagem e desmontagem e folha de pagamento.
A última atualização do caso está aqui no SP1 de 14 de outubro. Sem gravar entrevista, a Coranda alegou que está pagando todo mundo, mas ainda faltam aqueles não teriam passado os dados bancários, informações rebatidas pelos ex-funcionários. Ninguém recebeu nada, afirmam.
A agência respondeu ainda à Globo que no próximo domingo vai retomar a operação com toda a força, o que é um problema que poderia ser fiscalizado pelo Ministério Público do Trabalho. Para ganhar mais um mês na tentativa de conquistar um patrocinador para o serviço, a Coranda pode estar contratando novos funcionários que, sem saber dos problemas, vão trabalhar no risco de não receber nada no próximo quinto dia útil, assim como os 600 anteriores que já foram ludibriados.
Já a resposta da prefeitura para a reportagem da Globo vai na linha do que prevê o contrato. A administração de Ricardo Nunes (MDB) deu uma de isentona. Disse que pediu explicações sobre a falta de bandeirinhas no dia 12 e deu dez dias para a resposta. Se não ficar satisfeita, pode rescindir o contrato e aplicar as multas previstas.
É muito pouco. Caso a cidade venha a receber os valores da multa, é improvável que dinheiro seja repassado aos prejudicados como compensação uma vez que administração da cidade, pelos termos do edital e do contrato, não possui nenhum vínculo trabalhista com eles.
Descubra mais sobre Jornal Bicicleta
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

5 comentários