Por Juliana da Conceição – Advogada. Mestranda em Estudos Culturais cultura.jb@gmail.com
Douglas Belchior é candidato ao cargo de deputado federal (1375 – PT-SP) e um dos representantes da Coalizão Negra por Direitos, uma organização suprapartidária que busca combater a sub-representação da população negra no Poder Legislativo na defesa de agenda antirracista. Por isso, chamo a atenção para mais uma frente que precisamos enfrentar, que é a Mobilidade Antirracista, ou seja, precisamos colocar na pauta dos direitos, especialmente das mulheres negras, do exercício da livre mobilidade urbana e o direito à cidade.
Uma parte desse direito pode vir pelo acesso e incentivo ao uso de bicicletas nas periferias como forma de combater esse tipo de racismo. É uma ferramenta para além do esporte, do lazer ou só como forma de promover atividade física. Esse racismo da mobilidade cruza em cheio o uso da bicicleta e o desejo de ocupar todos os cantos da cidade sem ser criminalizada ou ter seus corpos agredidos. Digo isso pensando especialmente na mulher negra a cujo sofrimento se adiciona o enfrentamento diário do assédio machista e das agressões no trânsito, ainda mais violento quanto se trata de mulheres e pedestres ciclistas.
A partir de 2018, as brasileiras e brasileiros passaram a ter mais gastos com transporte do que com alimentação. Foi detectado que quanto menor o rendimento das famílias, maior o gasto com o transporte público. E isso penaliza especialmente famílias negras e pobres, especialmente as chefiadas só por mulheres negras. Ao precisarem escolher entre usar o pouco dinheiro que possuem para comer ou para pagar a passagem do trem e ônibus para ir trabalhar, em geral precisam optar pela segunda opção.
Onde você mora?
Quem mora nas periferias sabe bem: quantas vezes nós não tivemos que mentir sobre nosso endereço quando estamos em algum processo de contratação para um emprego? Sabemos que, em geral, os patrões não contratam quem mora longe. Por consequência, a diferença do valor da passagem não coberta pelo Vale Transporte ficava por nossa conta, na conta da trabalhadora.
E quando falamos das periferias das grandes cidades brasileiras, ela tem cor e tem gêneros bem demarcados: são mulheres negras com remuneração quatro vezes menor do que a recebida por um homem branco para fazer a mesma função!

Gênero, raça e classe andam juntos.
Apesar de toda essa violência, ainda assim estamos vendo a ascensão da bicicleta nas ruas: além de ser um meio de transporte eficiente, barato, não poluente e é saudável, ela serve para transporte, para o lazer e para o ganha-pão das famílias periféricas. Afinal, não podemos esquecer da precarização dos entregadores e entregadoras de delivery, classe trabalhadora de negra.
Por isso, julgo importante que pessoas como Douglas Belchior sejam eleitas para colocar na pauta antirracista as políticas públicas que priorizam pedestres e ciclistas – elos mais fracos no trânsito. É ainda colocar em pauta o racismo ambiental, sobre como as mudanças climáticas impactam diretamente as negras e negros.

É colocar em pauta a mobilidade urbana que favoreça as ciclovias e transportes de massa, sempre precários quando atendem as periferias. É colocar em pauta a atuação racista das polícias que criminalizam o ciclista, especialmente os entregadores de delivery, que já são extremamente explorados pelas empresas de aplicativos de entrega.
É tirar da bicicleta a aura de “brinquedo” e colocá-la como elemento central de toda uma transformação cujo o foco é a luta antirracista. Por isso que, no dia 2 de outubro, peço que votem em Douglas Belchior 1375 em SP e, quem não for de São Paulo, que exija a mesma postura dos seus candidatos, para que tenhamos uma bancada significativa na Câmara dos Deputados.
E sigamos na luta!
Outras informações: https://linktr.ee/negrobelchiordouglas
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